

Invisibilidade social e representatividade das mulheres no mercado, na área da ciência e pesquisa são temas debatidos há muito tempo. Iniciativas que permitam que a sociedade fale sobre o assunto e coloque em prática ações que auxiliem a reduzir o primeiro e aumentar o segundo têm sido vistas com cada vez mais frequência.
Uma das mais recentes no Brasil foi na reaplicação do Enem 2021 realizado em janeiro de 2022, o qual abordou a questão como tema da redação. Outra iniciativa, com um pouco mais de tempo e promovida pela UNESCO e ONU, é a celebração do Dia Internacional das Mulheres na Ciência e Pesquisa. Desde 2015, o dia 11 de fevereiro entrou para o calendário internacional de comemorações para incentivar meninas e mulheres a entrarem para o mundo da ciência.
O porquê iniciativas como essas acima e o papel das mulheres na área da ciência e pesquisa como mentoras são importantes é o que abordo neste artigo. Entender o contexto é fundamental para impactar de maneira positiva em nossas ações e carreira.
Pesquisadoras e cientistas brasileiras premiadas nos últimos tempos
Pode ser que alguns dos nomes que irei mencionar aqui você não conheça ou mesmo nunca tenha ouvido falar em nenhum deles, mas saiba que foram e são nomes importantes para a nossa ciência e que agora está tendo a chance de conhecer.
- Clarissa Frizzo
A professora e pesquisadora que tem se dedicado à produção de novas moléculas, com o objetivo de impactar a tecnologia de fármacos e beneficiar os efeitos dos medicamentos, foi uma das vencedoras do Prêmio Mulheres Latino-Americas na Química.
- Angela Wyse
Empossada como membro da Academia Mundial de Ciências, a professora e pesquisadora Angela Wyse tem como foco a área bioquímica, trabalhando na prevenção e no tratamento de doenças neurodegenerativas.
- Fernanda Staniscuaski
Professora e cientista responsável pelo movimento Parent in Science que apoia outras mulheres pesquisadoras que são mães. Justamente por esse trabalho ela foi reconhecida e premiada pela Revista Nature.
- Silvana Rempel
Doutorando em Engenharia de Materiais, Silvana foi um dos nomes listados entre as 25 Mulheres na Ciência na América Latina em função do seu trabalho em desenvolver um sistema com menos impacto ambiental que ajude no controle das pragas em lavouras.
- Luiza Frank
A pesquisadora e professora Luiza Frank que se dedicou no desenvolvimento de um novo tratamento para o câncer de colo de útero também foi um dos nomes listados entre as 25 Mulheres na Ciência na América Latina
Se está conhecendo agora cada uma delas, não ache que apenas você está nesse barco. Eu também desconheço boa parte dos nomes das nossas pesquisadoras e cientistas, assim como grande parte da nossa sociedade. Isso acontece porque as mulheres continuam tendo suas conquistas ocultas.
Por que ficamos sabendo menos dos feitos das mulheres na ciência?
Já melhorou bastante, mas ainda há o melhorar tanto na comunicação sobre a conquistas dessas profissionais como também o acesso delas ao mercado e instituições. De acordo com o estudo mundial realizado entre 2014 e 2016, e publicado pela Unesco em 2018, a parcela mundial de mulheres em ensino superior relacionado às áreas de tecnologia de informação e engenharia é consideravelmente menor que a dos homens.
Público feminino é maioria em cursos de Educação, Saúde e bem-estar e Artes e humanidades – Fonte: Luiza Labs
Se olharmos para os dados relacionados à presença de pesquisadoras no mundo, o cenário não é muito diferente. Em 2018, a ONU divulgou uma pesquisa feita com números de 2015 que revelou que apenas 28,8% dos pesquisadores mundiais são mulheres. Abaixo você confere outros dados:
- Estados Árabes – 39,8%
- Europa Central e Oriental – 39.5%
- Ásia Central – 48,1%
- Ásia Oriental e Pacífico – 23,4%
- América Latina e Caribe – 45,4%
- América do Norte e Europa Ocidental – 32,3%
- Sul da Ásia e Ásia Ocidental – 18,5%
- África Subsaariana – 31,3%
O Brasil possui cerca de 77,8 mil pesquisadores, segundo dados da plataforma Lattes. Desse total, 31.394 são mulheres.
5 desafios enfrentados pelas mulheres
Não apenas na área da ciência e da pesquisa, mas em diversas outras áreas, nós, mulheres, enfrentamos desafios para termos espaço, sermos ouvidas e reconhecidas, e esses são alguns deles:
- Falta de reconhecimento e promoção de modelos femininos na ciência;
- Existência de estereótipos culturais e atitudes em relação às mulheres;
- Organizações que não apoiam mulheres para que tenham no equilíbrio entre suas vidas pessoais e profissionais para que consigam lidar da melhor maneira com suas carreiras;
- Pouca representação das mulheres no setor privado;
- Falta de cultura de inclusão, o que impacta principalmente mulheres indígenas e negras.
Na série The Chair produzida pelo Netflix, lançada em 2021, muitos desses obstáculos são representados. Sem dar spoiler: a série conta os desafios na carreira de Ji-Yoon, a primeira mulher a assumir como Diretora em um departamento de uma Universidade.
Para quem ainda não assistiu, seja você homem ou mulher, recomendo acrescentar na sua lista de favoritos, pois diversas cenas criadas nos seis episódios da série podem acontecer no seu dia a dia. Eu, pelo menos, quando assisti, fui conectando com diversas situações que já vivenciei ou que sei que pessoas próximas vivenciaram.
Como a pandemia impactou a produtividade das pesquisadoras
Todos sabemos ou mesmo vivenciamos o caos que foi aprender a administrar responsabilidades da carreira, da casa e da família tudo no mesmo ambiente. Homens e mulheres tiveram impactos na produtividade com o estabelecimento do home office no início de 2020, claro que não nas mesmas proporções e também nem todos foram negativos, pois há várias variáveis em jogo (segmento de mercado, com quem mora, se tem filhos ou não, características pessoais…), mas no caso das mulheres que atuam na área da pesquisa, esse impacto foi negativo e se comparado ao público masculino atuante na mesma área, foi maior.
A produtividade dos profissionais que atuam nessa área é medido pelo número de artigos publicados. Sem pandemia e crise, já é esperado que a média de publicações das mulheres reduza em momentos de gravidez e nascimento dos filhos, já que passam por momentos de preparação e recuperação. Porém, com a pandemia de 2020 e o fato delas terem que lidar com as crianças 24 horas por dia, a quantidade de publicações reduziu ainda mais de acordo com matéria publicada na Revista Women In Science Edição #3 produzida pela British Council.
Veja o comparativo da quantidade de artigos publicados entre homens e mulheres nesse período:
Número de artigos publicados por pesquisadoras não chegou a 50% durante a pandemia — Fonte: Revista Women In Science Edição 3
A mudança do cenário da ciência e pesquisa no Brasil
Apesar de lento, tivemos uma evolução nos últimos anos com o maior fluxo de mulheres na linha de frente das pesquisas e nos cursos de mestrado e doutorado. Na USP, por exemplo, o número de mulheres presente na pós-graduação e pós-doutorado já é maior que o dos homens, um total de 21.394 contra 20.704.
Um relatório da Elsevier publicado em 2020 mostra as áreas da ciência nas quais as mulheres possuem maior presença no Brasil em comparação ao público masculino.
7 é o número de áreas nas quais as mulheres possuem maior presença — Fonte da imagem: Jornal da USP
Ainda são poucas áreas? Sim. Apesar do avanço, ainda temos o que crescer e justamente por isso que menciono com certa frequência aqui na rede e às minhas mentoradas que as mulheres na ciência e pesquisa têm nas mãos um diamante rosa (a pedra mais valiosa do mundo, por sinal, equivalente à US$71,2 milhões) que pode auxiliar a acelerar essa transformação no cenário brasileiro.
O diamante rosa das mentoras na ciência e pesquisa
Ele se chama conhecimento. Antes que possa dizer que é algo óbvio, já digo que não. Por mais que saibam da quantidade de informação de valor que possuem, nem todas as mulheres percebem como esse poder nas mãos pode influenciar outros profissionais no mercado, principalmente por meio da mentoria.
Quando se tem esse diamante rosa e um processo de mentoria, cientistas e pesquisadoras podem desenvolver outras mulheres no mercado em uma área da ciência e pesquisa, e ainda fortalecer suas próprias carreiras. Andryely Pedroso, nutricionista e LinkedIn Top Voice, e Rosane Sampaio, docente, fonoaudióloga e especialista em Disfagia, são dois exemplos de mentoradas da ciência e pesquisa que fazem bom uso da pedra valiosa. Com o público-alvo definido, definição de etapas e entregáveis, e outras questões estruturadas, seus processos de mentoria foram criados e hoje ajudam a mudar o cenário brasileiro capacitando mais mulheres para o mercado.
No momento que perceberam que poderiam utilizar suas capacitações e vivências para encurtar caminhos de outras nutricionistas e fonoaudiólogas, toparam o novo desafio.
Benefícios da mentoria para mulheres na área da ciência e pesquisa
Há uma lista deles, mas cito aqui os principais:
Benefícios para as mentoradas
- Oportunidade de ter acesso a nova rede de contatos;
- Ter ao lado um profissional de confiança;
- Receber conselhos sobre novas ideias e melhores caminhos;
- Aprender por meio das experiências e cases de sucesso da mentora;
- Acelerar aprendizado;
- Posicionar sua marca pessoal mais rápido por meio de conhecimentos adquiridos;
- Aumento de procura pelo mercado;
- Maior confiança na jornada por estar sendo guiado por uma mentora;
- Crescer no mercado e ter novas oportunidades na carreira.
Benefícios para as mentoras
- Oportunidade de fazer a diferença na vida de outra pessoa;
- Criar e manter um legado na área da ciência e pesquisa;
- Expandir a rede de relacionamento;
- Fortalecimento de marca pessoal;
- Aumento da habilidade como educador;
- Maior oportunidade de inspirar pessoas;
- Desenvolver suas próprias ferramentas de liderança;
- Aprender com a mentorada.
O que é mentoria? Clique aqui para ler o artigo
Heroínas ocultas tornando-se visíveis
Se você, que está lendo esse conteúdo, é mulher, sabe que muitas histórias fantásticas não foram e não são contadas ou reconhecidas. Porém, se assim como eu, deseja que cada vez mais tenhamos mulheres destaques, seja na área da ciência e pesquisa ou outra área, na liderança de empresas, em Conselhos…vamos trabalhar para que o número de heroínas ocultas seja cada vez menor, auxiliando na comunicação e na inclusão de mais mulheres no mercado.
Um grupo de alunas do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) já tem feito sua parte. Em 2021, publicaram o livro Heroínas Ocultas: as histórias nunca contadas da ciência.
Para comprar o livro ou ter acesso gratuito ao E-book, clique aqui.
Quem também tem auxiliado nessa inclusão é a British Council em parceria com a Fundação Carlos Chagas. Até dia 06 de fevereiro de 2022, estão abertas as inscrições de projetos que promovam a inserção de meninas nas ciências exatas e naturais. A iniciativa selecionará 30 projetos, os quais receberão um benefício financeiro de até R$15 mil, além do suporte para o desenvolvimento. Para saber mais sobre a oportunidade, clique aqui.
Lembre-se, você tem um diamante rosa nas mãos. Saber o que fazer com ele pode incentivar outras mulheres a seguir o mesmo caminho e serem destaques em suas áreas.
Compartilhe esse conteúdo com o máximo de mulheres com diamante rosa nas mãos. Esse pode ser o empurrão e apoio que muitas precisam para iniciar ou continuar suas jornadas.